. O VERDADEIRO E O MENTIROS...
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Lá bem no alto do monte
Enternecido, encantado,
Observo o extenso horizonte
O Sol acorda a vegetação p'ra que desponte
Qu'adormecera na noite em tom aquietado
Ao fundo prado verdejante
Com frondosas árvores de permeio
Nele, gado comendo erva vicejante,
E um cão que lhes ladra exuberante
Porque tresmalharem-se é seu receio
Os animais comem com satisfação
As ervas com que se repastam
E comem e balam em conjugação
Unidos em genuína comunhão
Cabras e ovelhas juntas pastam
A lembrar o poema de Camões
De ervas vos mantendes
E logo à memória vêm os dobrões
Qu'ele não teve, noutros sobrou aos montões,
Sobrou-lhe génio em versos sempre verdes
As pegas parlam por todo o arvoredo
Também Luís Vaz cantou p'lo mundo inteiro
A lusa raça nele crepitando ardendo
Sagrada estrela em angústia sofrendo
Sol da poesia pleno, verdadeiro
E no cimo dum pinheiro esguio
Meiga rola tem seu ninho, nele procria,
Ao lado um rouxinol canta sem fastio
Brilhantemente horas e horas a fio
Bela e harmoniosa melodia
Um bando de tordos foge em debandada
Porque houve ruído e perigo pressente
É gente que passa na velha estrada
E que segue algo apressada
Falando e cantando contente
E ao longe ouve-se o corvo a crocitar
Que diferença faz do cantar do rouxinol
É a Natureza tudo a dominar
E quem domina a Natureza! Fica-se a pensar,
E olho o horizonte e nele o Sol
João M. Grazina (Jodro)
Vestida e calçada a preceito
Ou a esse princípio indiferente
Vagueia pela Terra qualquer gente
Sem que o vestir denote moral defeito
Nem o coração que traz no peito
Que peremptório lhe domina a mente
Exterioriza a inclinação que sente
Se carácter maligno ou perfeito
Trajar mal ou bem nada significa
Nem rosto sério ou sorridente indica
O que vai no coração de qualquer pessoa
Tantas vezes uma atraente figura
Esconde a falsidade com finura
Não se lê na cara quem é gente boa!
João M. Grazina (Jodro)
A guerra e a paz fazem parte da vida
São ódio e amor em litígio permanente
Que fazem chorar e rir muita gente
Que p'la Terra deambula em árdua lida
Uma detestada outra apetecida
Que correm p'lo Mundo de forma diferente
Tumultuosa a guerra a paz suavemente
Tal rio em transfiguração na sua descida
As duas em total discordância
A guerra gritando com brutalidade
A paz murmurando com voz mansa
E na absurda disparidade
Se medita sem esperança
Guerra e paz são eternas na Humanidade!
João M. Grazina (Jodro)
Aconchegado na cama ouço o chilrear
Dos pássaros ao despontar da madrugada
A meu lado dorme feliz a minha amada
Calmo noto seu tranquilo respirar
Está sonhando certamente
Porque sua boca emite suaves ruídos
Que penso serem sonhos adormecidos
Fantasia a despertar em sua mente
Talvez na juventude que já passou
Desejos nela por concretizar
Como barco ao naufragar
Que seu porto não alcançou
Ou será que está a sonhar
Quando era jovem namorada
Na nossa paixão atribulada
Que tormentas não conseguiram separar
Porque nosso amor é como o amor do mar
Que beijar a areia da praia jamais se cansa
É doce sentimento que nos amansa
Com verdade nossas vidas a ligar
Só que nós somos e o mar nem sempre é terno
Só qu'o mar não fenece e nós fenecemos
Só qu'o mar não morre e nós morremos
Mas nosso amor irá além da morte, será eterno
Desperto do meu suave torpor
Lá fora ouço o chilrear da passarada
P'la janela vai entrando a alvorada
A meu lado dorme feliz o meu amor
João M. Grazina (Jodro)